sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Cultura Afro-brasileira

Cultura Afro-brasileira
A Influência do Negro na Cultura Brasileira

O entrecruzamento de africanos, portugueses e índios, entre os séculos XVI e XVIII, consolidou a estrutura genética da população brasileira. Toda a construção da economia litorânea no Brasil, inclusive o desenvolvimento de sua vida urbana, se deve ao mulato, mestiço de negro e ao branco.

Porém, a contribuição do negro para a cultura brasileira vai além da povoação e da prosperidade econômica através do seu trabalho. Vindos de diversas partes da África, os escravos negros trouxeram suas matrizes culturais e transformaram não apenas a sua religião, mas todas as suas raízes em uma cultura de resistência social.

Aqui vamos abordar rapidamente aspectos dessa influência, lembrando que ela é muito ampla e profunda e nem sempre percebida, de tão arraigada que está no nosso cotidiano.



Contribuição na linguagem

Os africanos, na ausência de uma unidade lingüística, já que provinham de diferentes povos, foram praticamente obrigados a criar uma em comum para que pudessem se entender.

A influência africana no português do Brasil, que em alguns casos chegou também à Europa, veio do iorubá, falado pelos negros vindos da Nigéria e notada principalmente no vocabulário relacionado à culinária e à religião e também do quimbundo angolano, em palavras como caçulacafunémolequemaxixe e samba, entre centenas de outros vocábulos.



Contribuição na religião

As religiões chamadas afro-brasileiras surgiram durante o processo de colonização do Brasil, com a chegada dos escravos africanos.


Mãe Stella de Oxóssi Iyálorixá do Candomblé, Salvador, Bahia, foto Agênca Brasil, Antonio Milena
Na realidade, os cultos afro-brasileiros vêm da prática religiosa das tribos africanas. Por isso, cada uma tem a sua forma peculiar de chamar o nome de Deus, promover seus cultos, estruturar sua organização, celebrar seus rituais, contar sua história e expressar as suas concepções através dos símbolos.

Na tentativa de catequizar os negros, os europeus promoveram uma grande mistura que resultou nas hoje chamadas de religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé, fruto da inter-relação de culturas.

Alguns povos bantos eram adeptos do candomblé e foram seus introdutores no país. Atualmente, existem poucas casas de candomblé puro no Brasil, concentradas principalmente na Bahia. Por outro lado, o candomblé de caboclo e a cabula, outra variante do candomblé, tornaram-se as raízes remotas do umbanda, o mais difundido culto afro-brasileiro, no Rio de Janeiro.

Para resistir, o negro buscou, através de formas simbólicas, alternativas que camuflassem seus deuses a fim de preservá-los da imposição da igreja católica. Assim, o sincretismo foi uma forma de defesa do negro e não a incorporação da religião negra à religião predominante. 
Festa do Senhor do Bonfim, em Salvador: Nessa festa popular, misturam-se as heranças culturais dos escravos trazidos para o Brasil e as tradições religiosas dos colonizadores portugueses.
Este material é parte integrante da Enciclopédia Encarta 2001 e tem sua utilização autorizada pelaMicrosoft Informática Ltda


Em diferentes momentos da história, aos poucos, as religiões afro-brasileiras foram se formando nas mais diversas regiões e estados. É justamente por isso que elas adotam diferentes formas e rituais, diferentes versões de cultos.

A fé nos orixás se misturou à fé nos santos católicos e o resultado disso tudo é o jeito brasileiro de praticar a religião.

"Em que outro país o mesmo devoto se sente à vontade para jogar flores e perfumes no mar para Iemanjá, pedir namorado para Santo Antônio e ainda acreditar na vida após a morte do espiritismo?"

Revista Criativa, da Editora Globo




SAIBA MAIS

 Religiões afro-brasileiras

 Candomblé



Contribuição na música e na dança 

O negro deu seu ritmo à música brasileira. Também lhe deu nomes, como chorinho ou samba. Por isso se diz que a música popular brasileira nasceu na África.

A raiz negra está em tudo: no samba, no pagode, no afoxé, nas festas folclóricas como a do maracatu. Além dos ritmos, os africanos trouxeram também instrumentos, como o berimbau, a cuíca e outros instrumentos de percussão, como o atabaque o berimbau.

Afoxé
Fonte: Wikipedia

Berimbau
Fonte: Wikipedia

Agogô
Fonte: Wikipedia

O samba era chamado pelos angolanos de semba. Esse gênero musical foi se transformando, ganhou novos instrumentos, chegou ao Rio de Janeiro e atualmente é característico de todas as regiões brasileiras.

Mistura de dança, luta e música, a capoeira também surgiu com os negros, que a utilizavam como arma de defesa. Durante a escravidão, reuniam-se em roda depois do trabalho para cantar, dançar, jogar capoeira ou reverenciar com música os seus orixás. Batiam palmas, batucavam, reviviam suas tradições. E assim a música negra se afirmava em meio a tanto sofrimento. 
Capoeira


Os escravos misturavam instrumentos musicais, dança e luta, enganando seus Senhores de Engenho, que pensavam estarem eles apenas "dançando".

A capoeira sofreu repressão por grande parte das autoridades policiais e também os senhores de engenho perseguiam os escravos praticantes de capoeira, porque a atividade dava ao capoeirista um sentido de nacionalidade, individualidade e auto-confiança, formando grupos coesos e jogadores ágeis e perigosos e também porque, às vezes, no jogo, os escravos se machucavam, o que era economicamente indesejável.

O capoeirista era considerado um marginal, um delinqüente. O Decreto-lei 487 acabou temporariamente com a capoeira, mas os negros resistiram até a sua legalização.

Mas, as coisas mudaram em fins da década de 30 do século passado. Um capoerista chamado Manuel dos Reis Machado,Mestre Bimba foi convidado por Juracy Montenegro Magalhães, a ir ao Palácio do Governo baiano. E agora? Mestre Bimba ficou assustado, achou que seria preso!

Para sua surpresa, o governador queria que se apresentasse com seus alunos para mostrar "a nossa herança cultural" para amigos e autoridades no Palácio do Governo.

Em 09 de julho de 1937, Mestre Bimba conseguiu o registro de sua Academia, a primeira reconhecida no país. Nesse ano, inicia-se a ascensão sócio-cultural da capoeira, que volta ao cenário cultural, estando presente na música, nas artes plásticas, na literatura, nos palcos...

Em 15 de julho de 2008 a capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro e registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial.

E no período da escravidão? Será que havia artistas afro-brasileiros? Sim, e alguns até ficaram famosos, mas a maioria só foi descoberta muito depois de sua morte!

Um pouco depois do período escravocrata, conhecemos alguns músicos negros, pioneiros da chamada música popular brasileira, como José Antônio da Silva Callado e Pixinguinha.

Muito depois, na década de 30, os artistas afro-brasileiros ganharam o seu espaço, sobretudo com o boom do rádio! E aí... milhões de pessoas ouviam os artistas negros.


Maracatu
Foi um tempo em que intelectuais e artistas começaram a reivindicar uma nova percepção de Brasil, como o país da miscigenação e da democracia racial.

Foi Carmem Miranda, uma mulher branca, a eleita "Rainha do Samba". Não por acaso. Sabe-se que a artista divulgava a música de artistas negros, quando eles não conseguiam trabalho.

Sabe-se ainda, por sua insistência e influência muitos artistas negros saíram do anonimato para subir aos palcos, incluindo nesse grupo grandes nomes como Dorival Caymmi e Sinval Silva, motorista de Carmem e autor do clássico "Adeus Batucada".

Mesmo assim, até o final da década de 50, foram poucos os artistas negros que conseguiram ter contratos assinados com gravadoras.

Nos anos 60, muitas composições sobre personagens negros eram racistas e ninguém reclamava. Apesar da ingenuidade de canções como "O teu cabelo não nega mulata (…) Mas como a cor não pega, mulata/ Mulata eu quero teu amor", está na cara o sinal de preconceito. "Mas como a cor não pega" fala da negritude como se fala de uma doença.

Gilberto Gil e Caetano Veloso, através de suas composições, colaboraram para que a força política do negro fosse mais reconhecida!

Depois deles, vários artistas negros despontaram no hip-hop, rap ou samba com a deliberada intenção de despertar o orgulho negro entre os jovens.

SAIBA MAIS

 Maracatu 

DIVIRTA-SE

 Jogo "Tocando junto" 



Contribuição na culinária

É impossível falar da influência dos africanos sem lembrar a herança que eles deixaram para a nossa alimentação. Acarajé, mungunzá, quibebe, farofa, vatapá são pratos originalmente usados como comidas de santo, ou seja, comidas que eram oferecidas às divindades religiosas cultuadas pelos negros. Hoje, porém, são dignos representantes da culinária brasileira.

As negras africanas começaram a trabalhar nas cozinhas dos Senhores de Engenho e introduziram novas técnicas de preparo e tempero dos alimentos. Também adaptaram seus hábitos culinários aos ingredientes do Brasil. Assim, foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros o angu, o cuscuz, a pamonha e a feijoada, nascida nas senzalas e feita a partir das sobras de carnes das refeições que alimentavam os senhores; o uso do azeite de dendê, leite de coco, temperos e pimentas; e de panelas de barro e de colheres de pau. Você sabia que os traficantes de escravos também trouxeram para o Brasil ingredientes africanos? É o caso da banana, ícone de brasilidade mundo afora e da palmeira de onde se extrai o azeite de dendê.


Feijoada
Enfim... todos o pratos vindos do continente africano foram reelaborados, recriados, no Brasil, com os elementos locais. E haja criatividade e capacidade de improvisação! O dendê trazido pelos portugueses para queimar em lamparinas e iluminar as noites escuras do novo continente logo foi parar na panela das mucamas. "Desde a África elas já sabiam que o azeite podia ser usado nas comidas".





VIDEOTECA: 

 Mojubá: a cor da cultura